segunda-feira, 23 de março de 2009

O grande Machadinho

O grande Machadinho

Baixo, mulato e pobre. O perfil poderia descrever qualquer homem ou mulher, mas se refere a Machado de Assis. Em 2008 se comemora o centenário da morte daquele que é considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Mas quem foi Machado de Assis?

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, mesmo ano em que nasceram Casimiro de Abreu (… 1860) e Tobias Barreto (… 1889). Era uma sexta-feira, inverno na Chácara do Livramento, centro do Rio, onde seus pais Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis haviam se casado onze meses antes. Ainda criança, Machadinho, como era chamado pela família, perdeu a mãe (tuberculose) e uma irmã mais nova (sarampo).

O jovem tímido e simples, características que o marcaram por toda a vida, falava fluentemente o francês, dominava o inglês e ainda lia em grego e espanhol. Fato um tanto curioso, pois não existem registros de Machado matriculado em escolas da época. Autodidata, o autor de Quincas Borba iniciou os estudos da língua alemã por volta dos 50 anos.

De origem humilde, Machado de Assis chegou a vender doces. Mas foi na livraria de Francisco de Paula Brito que o pacato rapaz deu seus primeiros passos na vida literária. Paula Brito foi um grande incentivador. Mesmo com seu jeito metódico e equilibrado, em 12 de janeiro de 1855, aos 15 anos, Machado publica seu primeiro trabalho literário: o poema Ela, na revista Marmota Fluminense.

Aos 17 anos, também com a ajuda do amigo Paula Brito, o jovem Machado trabalhou como tipógrafo da Imprensa Nacional, que guarda até hoje o prelo que ele usou. Mas além de não possuir talento para a tarefa, ele ainda foi demitido por ficar lendo ao invés de trabalhar.

Em 1858, Machado volta à livraria de Paula Brito dessa vez como balconista. Interessado, ele aproveitou o ambiente e se integrou ao grupo de literários que freqüentavam a livraria. Passou a atuar também como jornalista nos jornais Correio Mercantil e Diário do Rio de Janeiro. Nessa mesma época Machado de Assis teve aulas de caligrafia.

Em 1864 publica Crisálidas, seu primeiro livro de poesias. Sua obra é tão grandiosa que ele ainda publicaria algo em torno de 200 contos, 600 crônicas, nove romances, nove peças teatrais e mais três livros de poesias.

Já conhecido nas rodas literárias, Machado de Assis casa-se em 12 de novembro de 1869 com Carolina Augusta Xavier de Novaes, portuguesa do Porto e irmã do poeta Faustino Xavier, amigo do autor.

Machado morou de 1883 a 1908 na rua Cosme Velho, 18. A casa não resistiu à especulação imobiliária e foi demolida. Foi na residência que Machado ganhou o apelido de bruxo do Cosme Velho.

Sua união foi feliz, mas sem filhos. A morte de sua esposa, em 1904, é uma sentida perda, tendo o marido dedicado à falecida o soneto Carolina, que a celebrizou. Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado em 1872. Com a nomeação para o cargo de primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, estabiliza-se na carreira burocrática que seria o seu principal meio de subsistência durante toda sua vida. No O Globo de então (1874), jornal de Quintino Bocaiúva, começa a publicar em folhetins o romance A mão e a luva. Escreveu crônicas, contos, poesias e romances para as revistas O Cruzeiro, A Estação e Revista Brasileira.

Sua primeira peça teatral é encenada no Imperial Teatro Dom Pedro II em junho de 1880, escrita especialmente para a comemoração do tricentenário de Camões, em festividades programadas pelo Real Gabinete Português de Leitura. Na Gazeta de Notícias, no período de 1881 a 1897, publica aquelas que foram consideradas suas melhores crônicas.

Em 1881, com a posse como ministro interino da Agricultura, Comércio Obras Públicas do poeta Pedro Luís Pereira de Sousa, Machado assume o cargo de oficial de gabinete.

Publica, nesse ano, um livro extremamente original , pouco convencional para o estilo da época: Memórias Póstumas de Brás Cubas -- que foi considerado, juntamente com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo na literatura brasileira. Extraordinário contista, publica Papéis Avulsos em 1882, Histórias sem data (1884), Vária Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1889), e Relíquias da casa velha (1906).

Torna-se diretor da Diretoria do Comércio no Ministério em que servia, no ano de 1889.Grande amigo do escritor paraense José Veríssimo, que dirigia a Revista Brasileira, em sua redação promoviam reuniões os intelectuais que se identificaram com a idéia de Lúcio de Mendonça de criar uma Academia Brasileira de Letras. Machado desde o princípio apoiou a idéia e compareceu às reuniões preparatórias e, no dia 28 de janeiro de 1897, quando se instalou a Academia, foi eleito presidente da instituição, cargo que ocupou até sua morte, ocorrida no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908. Sua oração fúnebre foi proferida pelo acadêmico Rui Barbosa.

É o fundador da cadeira nº. 23, e escolheu o nome de José de Alencar, seu grande amigo, para ser seu patrono. Por sua importância, a Academia Brasileira de Letras passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.

Dizem os críticos que Machado era "urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."

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